quarta-feira, 12 de março de 2014

Espiritualidade e pós-modernidade



Por Sergio Sebold – Economista e Professor 


Diversos autores no campo da sociologia têm encontrado dificuldades de uma análise acurada da sociedade atual, reconhecendo que não visualizam soluções de curto prazo para os tremendos desafios que se tem pela frente, oriundas principalmente pelo avanço tecnológico. De forma geral estes pesquisadores reproduzem o modelo psicológico fomentado pelo iluminismo. O iluminismo é decorrente da ascensão, depois de alguns bons séculos, da classe dos comerciantes e afins até tomada do poder político. Por esta ótica, a sociedade está estruturada pelos ideais, interesses e perspectivas novamente dos comerciantes, do sistema industrial, do sistema financeiro e como pano de fundo dos especuladores.
            Para manter estes ideais, tornou-se necessário eliminar do horizonte emocional e intelectual: a transcendência. Esta substituição se promove através do bem estar e da felicidade, que devem ser encontrado nas posses, na diversão, no acúmulo de conhecimentos e no desenvolvimento de técnicas que favoreçam cada vez mais o consumo. Caso contrário, se a felicidade humana for procurada na sua forma mais profunda, o transcendental, o modelo capitalista vigente entra em colapso. 
            Sem entrar em proposições filosóficas, a busca do bem-estar e da felicidade é encontrada nas seguintes dimensões: no campo físico; no campo dos sentimentos, sensações e emoções; no campo intelectual; e no campo espiritual. A luz de nosso intelecto os três primeiros são limitados, e sua busca resulta numa condição de imcompletude, num processo sem fim. Mas só há busca, porque sempre haverá escassez, carências, necessidades, levando o ser humano a um sentimento permanente de nunca se completar ou satisfazer. Para amenizar esta perspectiva sombria, as religiões pregam em primeiro lugar, sem negar os demais campos, a dimensão espiritual, porque esta é completa. Diante desta possibilidade, o iluminismo em defesa própria, argumenta que a religião significa trevas. Para justificar isso, aponta o cristianismo com todas as suas distorções. Em seus argumentos, afirmam que às "trevas religiosas" opõem-se as luzes da nova visão, aquela que garante a busca do bem estar unicamente no campo dos fenômenos. 



            As expectativas e as esperanças que restam aos entes humanos indefesos são as que estão relacionadas ao desenvolvimento e consumo de novos produtos da técnica. O resultado, em todo o mundo, em graus variados, é o que vemos hoje: relativismo, banalidades, incertezas, prisões abarrotadas, violências urbanas, tudo por falta de perspectiva, vazios existenciais, pobreza crescente, assombrosa corrupção, relacionamentos superficiais e descartáveis. Será este o preço da transição ou de crise para um novo período da história, o da "pós-modernidade"?            Uma vez, reduzida a religião à esfera de insignificância como pretendem, fica aberto o campo para muitas pessoas ingênuas, primárias e os jovens com baixa estrutura crítica, serem vítimas das vendas, dos lucros, do acúmulo de riquezas, da especulação, da busca da felicidade e do hedonismo por meio do consumo, tendo por trás o suave canto das sereias: a mídia capitalista. Entretanto, o capitalismo acabou descobrindo que a religião não precisa ser totalmente negada – ela passa a ser mais uma oportunidade dos itens de vendas, de faturamento, e pode ainda ser multifacetada a fim de facilitar o consumo por parte de pessoas fragilizadas pelas dificuldades da vida, sendo elas agora excelentes massas de manobra.


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